terça-feira, 5 de maio de 2009

Finalmente voltando ao ar...

Passado um tempo necessário para digerir traduções e outras coisas (é difícil mesmo viver da arte nesse mundo, os malabarismos entre criações, execuções e projeções são enormes...) finalmente retomo meus escritos neste blog.

A semana que passamos com Daniella Aguiar em Curitiba foi realmente intensa e produtiva. Fico sobretudo imensamente feliz em perceber o quanto apostamos na prática e nos lançamos em experimentos para, a partir de um lugar de efetiva “experiência”, passarmos a “teorização” de assuntos e questões. Guardo da convivência com Deborah Hay em outro trabalho, a insistência dela na estratégia de “atirar primeiro e apontar depois”, acho que tem algo precioso nisso que se aplica aqui.

Bom, a primeira coisa que fizemos com a Dani foi apresentar e explorar nossas experiências de tradução, colocando na roda o material produzido. Ela trouxe referências importantes e um “olhar de fora” (de fora mesmo) preciso e arejado para organizar vídeos, fotos, desenhos, pães... para escolher o que investir, cavar, aprofundar.

Fizemos com ela uma tentativa de observar as obras* (Amarelo e Quase Nu) como “sistemas mustiníveis”, reconhecendo a princípio quais seriam esses níveis, quais as propriedades que cada um contém ou apresenta, quais as relações entre níveis e propriedades... um exercício que começou um tanto abstrato mas que ganhou concretude a partir das obras e das tentativas de traduçao. Coloco o “sistema multiniveis amarelo” no próximo post, antes sinto que preciso falar um pouco sobre aquela estrelinha ali, ao lado da palavra “obra”.

*Agora toda vez que escrevo ou falo em “obra” sinto a alma tremer diante de todas as questões que esse termo abraça, e agradeço à Milla Jung por ter me apresentado ao texto do Rolland Barthes: A morte do autor (In: BARTHES, Roland. O rumor da língua. São Paulo, Brasiliense, 1988). Sem entrar propriamente no que o texto apresenta (obra-texto, autor-leitor, e desdobramentos super ricos e complexos), tenho que dizer que ele me fez voltar às discussões que tivemos com o Gustavo, sobre nos mantermos vigilantes na tarefa de traduzir Amarelo e Quase Nu, e não seus processos de criação ou todas as questões que estão em volta deles e de nos mesmos, seus “autores”.

Acreditar no “poder performativo” da obra*, na concretude das questões e situações propostas por ela, entende-la como um micro-universo, um campo, uma língua... sinto que esse caminho me fez investir em minhas traduções de uma outra forma. Não estou produzindo sobre Amarelo, mas em Amarelo.

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