domingo, 31 de maio de 2009

Sozinhando...



E cà estou eu, sozinhando com o universo Quase Nu do Ricardo. Já dancei muito, já corri atrás e na frente do meu pensamento, fiz contact comigo mesma, vesti e despi muitas cuecas vermelhas... e uma certa angùstia me acompanha nessa jornada. Como usar em mim as estratégias do outro? O que fazer se elas não me levam aos mesmos lugares quase nus? Criar novas estratégias para chegar a um lugar comum? Ou aceitar as distorções e os materiais outros que têm aparecido?

Encontrei por exemplo uma forma minha de me revelar aos pedaços, mas tenho que admitir que ela é um tanto quanto... amarela! Os trabalhos começam mesmo a se cruzar e se confundir.

Quando falei ao Ricardo sobre a massa em Amarelo, de onde ela veio e como foi habitando o trabalho, falei que ela era meu outro corpo, uma outra pele, um volume, um peso. Pois bem, antes de vir para o sitio comprei um pedaço grande de tecido vermelho, depois de experimentar tudo e mais um pouco com este material em estúdio, deitei em cima dele, peguei um pedaço de giz e desenhei o molde de um corpo (no caso: do meu corpo). Cortei, e cà estou eu fazendo um outro outro corpo, agora vermelho, agora de tecido. Meu duplo, meu display, meu vodu (e volto à Amarelo...). Faz três dias que me ocupo em costurar esse outro corpo, quando começar a usa-lo vou saber se ele serve mesmo para alguma coisa no trabalho. Mas o artesanato da costura já tem servido para uma meditação ativa sobre tantas coisas...

Re-assisti “Minha vida sem mim”, é emocionante, e me faz pensar mesmo na “formula da cumplicidade”. Os recursos do cinema parecem gerar com certa eficiência esse sentimento de empatia... Ela fala o tempo todo em primeira pessoa, da vida dela, das filhas, do marido, do amante, da mae, e eu não vejo egoismo em momento algum. Pelo contràrio, me pego chorando ou rindo em diversos momentos, completamente entregue. Talvez porque no filme eu possa “conviver” com as filhas, o marido, o amante, a mãe. Eu passo a conhecê-los também, e não so a pessoa que fala deles. E claro, ela està sob a ameaça da morte, o que lhe dà uma licença para ser piegas, sentimental, etc.
Para encontrar a “formula da cumplicidade” fiquei pensando nessas duas coisas: apresentar as coisas sobre as quais eu falo, para que elas se tornem pessoais e familiares também para o público, para que ele se apegue a elas de alguma forma, e contar com alguma situação maior (a ameaça da morte, uma bomba, um incêndio...) que pode atingir a mim, pode atingir o publico, e também tudo isso que apresentei como meu, que a essa altura já serà nosso. Parece confuso, e é. Mas se a “formula da cumplicidade” existe, ela deve passar por aqui...

Antes de dormir leio um pouquinho de Alice (para ter sonhos fantásticos), e ela também està fantasticamente confusa com perguntas: “gatos comem morcegos? E às vezes: Morcegos comem gatos?, pois sabem, como ela não sabia a resposta para nenhuma das perguntas, tanto fazia a ordem que lhes dava”.
Mas não deixava de fazê-las! E isso me parece importante. Enquanto não sei se a estratégia leva ao resultado ou se o resultado pede outra estratégia, continuo testando... e sozinhando...

Esse na foto ai em cima é o Barbosa, ele fica deitado ao meu lado, bebendo a água da piscina enquanto eu costuro...

Nenhum comentário:

Postar um comentário