segunda-feira, 29 de junho de 2009

transmissao de "Newark" (1987) para estudantes da FAC/CNDC "Newark/Re-Worked" (2009)


Michelle- Quais são as operações utilizadas para realizar a transmissão de “Newark/Re-Worked” ?

Stacy Spence(1)-
Antes de começar a transmitir a coreografia, nòs estàvamos trabalhando no sentido de dar a todos o mesmo modo de “ler o corpo”, o mesmo modo de “como” usar o corpo. Dessa forma quando começamos a fazer a coreografia, todos tinham uma linguagem comum, isto é, uma mesma “pàgina” mesmo com diferentes possibilidades. A partir dai começamos a aprender os movimentos da coreografia original, que também ajudam a informar a aula que dou pela manhã, que por sua vez informa o movimento da coreografia, enfim, é um trabalho em cadeia. Isto porque a coreografia està lidando com certas propriedades mecânicas do corpo bem especificas, e trabalhar especificamento sobre isso, ajuda a transpor a idéia do movimento dele mesmo, para a relação com o espaço e com as outras pessoas. Então eles estavam aprendendo as frases de movimento, até tê-las muito bem conhecidas, para depois aprender a coreografia. O primeiro modo de aprender a coreografia, foi através do video da coreografia original, repetindo exatamente o que estava no video. Agora, olhando pra tràs, acho que foi uma boa estratégia, pois deu aos dançarinos mais informações sobre como usar seus corpos, pois eles estavam diretamente absorvendo o que jà tinha sido feito depois de muitas experimentações e tudo o mais, e eles puderam captar o “espìrito” do que é esperado para “Newark”. Essa primeira seção que eles aprenderam é a ultima parte da coreografia.

De là, eles aprenderam mais frases, e ao invés de aprender através do video, nòs trabalhamos sobre as « idéias de composição » relacionadas ao espaço : ficar perto de alguém, ficar longe de alguém; como você trabalha com alguém perto; como o espaço muda e o quê està disponivel pra você nesse espaço; quais são as escolhas que podem ser feitas. Então nòs improvisamos, e eles ficaram realmente bons em improvisar, primeiro fazendo escolhas especiais em posições simples como sentar, ficar de pé, andar, rolar, sempre tendo em mente que as escolhas estão sendo feitas em relação as outras pessoas. Essas improvisações foram fixadas em movimentos e frases sempre tendo em mente as escolhas espaciais que devem ser feitas. Depois de tudo memorizado, tivemos que refinar um tipo de instinto, que ajudasse a lembrar porque você fez essas escolhas, quais foram as escolhas, e recriar novamente, ai então estava realmente fixado. Passamos a trabalhar em pequenos ajustes, memorizando novos detalhes, e eu fiquei o tempo todo como o « olho de fora », atento para as oportunidades mas mantendo tudo relacionado como a idéia original, porque todo mundo tem suas idéias individuais sobre o quê a obra é, e como é. Então esse foi o modo como eu trabalhei como a « pessoa de fora », que mantém sobre controle as idéias que Trisha Brown trabalhou originalmente. E muitas dessas idéias são mais simples que muitos bailarinos pensam. E foi assim que terminamos com todas as outras seções. Cada seção lida com o espaço diferentemente, as duas primeiras seções chamadas « horses » lidam com um espaço onde duas pessoas devem manter o espaço entre elas, mudando isso algumas vezes, e depois finalizar isso enquanto outras duas pessoas estão livres, mas eles precisam manter-se proximos e distantes. Na pròxima seção, o espaço é limitado e pequeno, em que todos devem ocupar ao mesmo tempo. E na ùltima seção, todo o espaço é usado, existem unìssonos e a idéia de mover-se e mover pessoas como se estivessem movendo mobilias de uma casa.

Michelle- Em que medida que as idéais que moveram a criação original, estão também movendo esta transmissão ?

Stacy Spence-
Eu definitivamente tento não tomar liberdades. E novamente, se eu percebo os bailarinos tomando liberdades, e entrando em lugares que eles estão acostumados, os padrões pessoais que nada têm haver com a coreografia, eu tentarei puxà-los para a proposta, o corpo de « Newark ». A coreografia é sobre « formas » sendo movidas, e também ser sensivel ao contato, mas não é necessariamente sobre estar junto se misturando uns aos outros, como uma improvisação de contato. Quando isso aparece preciso estar atento para remover esse tipo de padrão. Pessoalmente sempre tendo manter tudo bem pròximo da coreografia original, pelo menos o que tenho de conhecimento da obra original.

Michelle- Como as obras de Trisha Brown começaram a sair da companhia ? Como « Newark » veio para Angers ?

Stacy Spence-
Tem um pouco haver com a idéia de « nossos clàssicos ». Tem alguns trabalhos da companhia que as pessoas pedem por verem algo de essencial, como uma ferramenta de aprendizado, ou porque a coreografia faz uma impressão forte, ou fez uma forte inovação que pensam ser importante. E como « Set and Reset », que no momento em que foi criada abriu a idéia das pessoas para outras possibilidades de se entender uma coreografia.« Newark » é outra peça que parece ter marcado algo importante : Isso é algo que é claro e diferente do que tinhamos visto antes. Tem alguma coisa importante aì.». E para Angers…David(2) realmente gosta da peça, e ele gostaria que os estudantes pudessem experimentar fazê-la. E tem essa questão recorrente ao CNDC « Porque manter os clàssicos, ou porque ensinà-los. » Acho interessante porque tendo estado perto dos estudantes, e ter ensinado, me faz perceber que a peça ensinou-os muito sobre como usar seus corpos de uma maneira, que obviamente eles não tinham experimentado antes. E talvez essa estética tenha ido para um outro lugar atualmente, mas acho que tem algo de importante de aprender todas essas coisas, mesmo que velhas, pois se hà algo de forte nisso, são mais informações para você. Deve ter uma razao para isso ter sido marcado como um « clàssico ». E talvez você naum tire nada disso.. « Ah, eu rejeito esse clàssico !». Mas acho que é uma oportunidade. Pois você pode rejeitar outras coisas, que naum sao clàssicos, coisas de agora mesmo. E quando ensino « Newark », percebo que essa peça esta informando agora algo novo, mesmo que tenha sido feita à 20 anos atràs. Cada um tem seu proprio medo de experiências…
E se pensarmos em arte como algo maior que apenas nos mesmos… Lembrando que, todas essas coisas que em algum momento marcaram uma impressao forte no passado podem nos mover adiante… Entaum você naum esquece delas e apenas repete pensando que estah fazendo algo novo. Mantem-se conectado !

(1) Stacy Spence integrante da companhia de Trisha Brown. Esteve no CNDC/Angers, para realizar a recriaçao de « Newark » peça original criada em Angers em 1987, para os estudantes da FAC (Formation d’artiste chorégraphique) intitulada « Newark/Re-worked ».
(2) David Steele é diretor pedagogico da "Escola superior de dança contemporânea" do CNDC/Angers.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

"Seule importe l’oeuvre, mais finalement, l’oeuvre n’est là que pour nos conduire à la recherche de l’oeuvre."

Maurice Blanchot

Minha tradução/apropriação...

“O que importa é a obra, mas finalmente, a obra só está aqui para nos conduzir à pesquisa da obra.”

Em: LOUPPE. Laurence. Poethique de la danse contemporaine. Contredanse, 1997, Paris.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

De quase quases




Das estratégias fisicas...
Pensamento, dança, contact comigo mesma. Tudo isso se misturou um pouco e virou aqui alguma coisa, algumas coisas... Antônio Damásio foi de grande ajuda Ricardo, vc tinha razão. “A alma respira através do corpo, e o sofrimento, quer comece no corpo ou numa imagem mental, acontece na carne”. Acredito tanto, e sinto como se tivesse esquecido. Mas salvei isso em algum canto aqui dentro, e lembrei, senti, dancei. E a intimidade foi chegando pra esse lado também. O que seria uma intimidade do corpo, da carne...? um cheiro meu, um gosto em mim, uma dobra, um lugar escondido, um embaixo de alguma coisa, isso que não tem mesmo nome (salve Gilson Fukushima), nem voz, mas é corpo... e talvez não seja o caso de mostrar, mas de usar como impulso, como grito. De novo Damásio: usamos o corpo como “instrumento de aferição”, é a partir dele que sentimos o mundo e nos relacionamos com o mundo. Então vamos relacionar essas intimidades da carne com o mundo e gerar alguma coisa...

Dos objetos...
Pensei muito no que conversamos sobre entender a relação com os objetos como uma relação amorosa, quem escolhe e quem é escolhido, quem domina em quem se submete. Deu no noivo cadáver (e hoje acordamos assim, um pra cada lado...), este corpo vermelho cheio de fibra de poliéster, que eu costurei, feri, furei, pisei, abracei, pendurei, mordi, bati, dancei, amei... No diagrama ele começou no grupo dos “objetos-metàfora”, mas deu uma passeada pelos “objetos-meio”. O plástico branco me serviu bem ( os 8 metros), me lembra algo amarelo, mas desenvolvi com ele uma estratégia para me revelar aos pedaços...
E, finalmente, se vc tem seu sonho, eu tenho meu... pirulito (e o noivo tem 2, um em cada olho!).

Das referências...
Alice me é muito próxima. Seu mundo fantástico, suas perguntas descabidas, ela me inspira, me autoriza, me alimenta. A princesa dos cabelos mágicos eu estou procurando, e algo me diz que eu vou encontrar. E, claro, Tim Burton (nem lembro mais se fui eu ou vc quem falou dele primeiro) veio me visitar tantas vezes...

E por fim tenho que dizer que tudo se transforma mesmo nesse (agora um pouco meu) planeta quase nu, vamos ver o que sobrevive até o fim deste projeto...


e

“a dança é o que salva o movimento do clichê” – diz o adesivo na janela da casa da Helena.

o céu no ced...






Um quilo de fibra de poliester, uma tentativa de encontrar a princesa dos cabelos màgicos, um céu, e finalmente tudo foi parar dentro do vodu - o tal noivo cadaver...