4 a 8 maio 2009
Caieiras, São Paulo
Já que “o amor é coincidência rara”, como são raros colaborações artísticas que multiplicam questões fundamentais a cada um, e que este trabalho aponta para preciosidades do convívio artístico, nada melhor do que começar propondo:
1. Outros modos de dizer “eu te amo”
Em nosso primeiro encontro, apresentei minhas restrições (típico de um 1o encontro amoroso de pessoas que procuram relacionamentos maduros) quanto à palavra TRANSMISSAO, buscando entender o que isso quer dizer no contexto do projeto AS OBRAS DENTRO DA OBRA e para cada um de nós ali presentes. Para minha segurança, tinha lido o fantástico “post” da Michelle no blog como meu principal dever de casa para este encontro, além de claro, conhecer e estar de paquera com essas idéias artísticas e estes “caras” há muito, muito tempo.
Apresento, sorrateiramente, porque receios à palavra “transmissão”:
- transmitir tem fundo poço sem fundo na área da educação; uma vez que nosso corpo é feito de palavras que aprendemos como metáforas, a sugestão de alguém (que supostamente sabe mais) que pode transmitir algo para alguém (que supostamente sabe menos) me parece um pouco... injusta ao processo do saber, inclusive se envolvemos o corpo e suas histórias.
- transmitir pode sugerir caminhos “trans”, sem que seja só de ida e volta, que atravesse, que irrompa processos não lineares de passar algo para alguém; no entanto, nem sempre é levado em conta a complexidade dessas convergências, por tantas vezes divergentes.
- processos de comunicação não nasceram para serem simples códigos nem seguros caminhos de saída e chegada de “bits” de informação; se levarmos em conta isso nas artes do corpo e nos saberes dos movimentos, puxa, tudo fica bem mais interessante quando complexo.
- armadilhas existem para falar de complexidade; vejo algumas como a do poder-saber (bem Foucault mesmo), de corpos dóceis (mais Foucault na veia), de processos linearizados (simplificatórios), de processos de comunicar imaginando alcançar o todo (totalizantes ou totalitários).
Parece que receios aqui giram em torno de amores cruéis...
Para dar cabo, proponho, portanto, alguns sinônimos à palavra transmissão: transportar (mudar de posição) – transfigurar (mudar de figura) – contagiar (o prefixo con- também pode ser muito proveitoso) – transmutar (mutações inevitáveis) – transplantar (adora metáforas biológicas) – transar (por que não)
Ou seja, ficamos com o “trans”, que possa sugerir caminhos diversos àqueles de “ida-volta”, mas perdemos qualquer inocência de poder sobre a transmissão ou de fidelidade irrestrita.
Nirvana.
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