quinta-feira, 21 de maio de 2009

Enfim acho que ZELIG veio conversar comigo (ou eu fui até ele, sei lá)

Hoje percebo que foram precisos diversos dias de deglutição das conversas com Nirvana aqui em São Paulo para que algumas questões fizessem sentido. Não que naquele momento não fizessem (faziam muuuito sentido), mas foi trabalhando que sinto que algumas viraram literalmente CORPO.

Muito falamos e experimentamos da complexidade que é se aproximar do outro. Diversos receios permeiam essa discussão: o medo de perder-se nesse caminho; um cuidado e respeito pelo outro e seu universo (que muitas vezes é uma forma de manifestar mais um medo); os complexos e dolorosos medos do julgamento do outro; o receio de executar cascas do outro e nada disso ser interessante, potente, vivo.

A Nirvana, desde nossas primeiras conversas sobre esse projeto nos idos de 2008, nos fala de seu interesse por um filme de Woody Allen, chamado ZELIG (1983). Nesse filme, que assistimos na semana de trabalho com Nirvana aqui no CED, Leonard ZELIG (interpretado pelo próprio Allen) é um humano camaleão que se transforma fisicamente ao entrar em contato com o outro, assumindo algumas de suas características.




Para além de toda a história e de todas as metáforas que são apresentadas no roteiro, me parece que uma idéia nos é muito interessante nesse projeto: um deleite e uma tranqüilidade no fato de poder ser o outro.

Mesmo depois de todas as conversas me peguei novamente, em meio a sessões de trabalho no estúdio principalmente, me corrigindo com expressões como: “agora estou imitando a beti”, “isso é importante para ela, mas não é para mim” ou “eu preciso me encontrar nesse material”. Todas postulações que agora enxergo como covardes, ineficazes e em certa medida falsas.

Explico: não se trata de se anular e se perder diante do outro (nesse caso o outro é o universo amarelo), mas sim de assumir a complexidade que pode ser esse “ser o outro”. As vezes me vejo numa contradição quase esquizofrênica: se por um lado me esforço para me aproximar do amarelo de todas as formas, por outro tento me afastar dele quando tenho esses violentos desejos de “me colocar”, de “tornar isso meu”.
Eu estarei ali de qualquer jeito. Não preciso forçar uma barra para que isso apareça. Já está dado. Me parece que o caminho é mesmo o de se permitir ser o outro, pois vejo nesse permitir-se um mecanismo de recriação. E não o contrário que seria dado pela afirmação “quero me apropriar do universo amarelo”.

Sei que pode parecer confuso, mas precisava partilhar isso com vocês, pois durante uma experimentação aqui ontem me senti meio ZELIG, tranqüilo e curioso por estar ficando amarelo (e por conseqüência ficando meio Beti Finger), ainda que tal sensação não tenha durado muito tempo. (o que é bom dura mesmo pouco).

Ricardo, 21.05, CED)

Sobre o do ZELIG no youtube:
cena de transformação
http://www.youtube.com/watch?v=3W2iSyLpr-o&feature=related
trailer (é muito engraçado)
http://www.youtube.com/watch?v=KcvuzdG9WfY
teaser
http://www.youtube.com/watch?v=fsjt-lNtSfg&feature=related

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