terça-feira, 19 de maio de 2009

Os corpos sensoriais de Tim Burton


Como já indicado em posts anteriores escritos pela Beti no momento em que realizava algumas de suas traduções, algumas imagens de Tim Burton informam questões que se fazem presentes no amarelo. Especialmente algumas contidas no livro "A morte melancólica do rapaz ostra & outras Estórias". Para quem não conhece, é um livro belíssimo de pequenas histórias de personagens esquisitos, melancólicos e com uma característica especial em comum: um corpo sensorialmente modificado.

A exposta aí, minha favorita por enquanto, é a "A rapariga com muitos olhos". A imagem dela me provoca um desejo e um estado físico-percepetivo que me interessa. Mais uma vez executando minha licença para antropafagizar, digo que quero chegar fisicamente ao "Rapaz com muitas bocas". Ainda não me sinto a vontade para utilizar meus dotes de desenhista para desenhá-lo, mas pretendo fazê-lo em breve.

No livro tem também a "rapariga de olhos fixos" (que vence um concurso local de olhar fixamente); "o rapaz com pregos nos olhos"; "a rapariga vodú" (ver post da Beti) e claro, o protagonista, dono da mais longa história, "o rapaz ostra".

Rapidamente me dei conta que este padrão, de produzir uma fisicalidade sensorial esquisita sem para isso deixar de garantir características humanas, é uma característica recorrente em Burton. E me parece que é nesse ponto, DA CONSTRUÇÃO DE UMA SENSORIALIDADE OUTRA, ESPECÍFICA E DIRIA QUE EMOCIONAL, é que me parece estar localizado o cruzamento entre Amarelo e Tim Burton.

Interessado em esmiuçar esse universo e buscar formas de experimentá-lo, assisti novamente alguns filmes de Tim e li algumas coisas a seu respeito. Assisti, pensando nessas questões, "O estranho mundo de Jack" (1993); "Edward mãos de tesoura" (1990); "A noiva cadáver" (2005) e "Sweenwy Todd: o barbeiro demoníaco da rua Fleet" (2008).

Sem sombra de dúvida os mais inspiradores são os estrelados por Johnny Depp (Edward e Sweeney Todd). Por vários motivos me sinto instigado: por não serem animações, os filmes tem um apelo físico-humano-sensorial mais forte. Os personagens centrais são humanos estranhos e com uma forma de vivência sensorial próprias. As mãos de tesoura de Edward viram mais tarde as navalhas de Sweenwy Todd. O que era parte vira extensão (o próprio barbeiro afirma, ao empunhar sua navalha, que só com elas é um ser completo). Me parece que Sweeney é uma retomada, atualizada e mais violenta de Edward. E vejam só: OS DOIS TEM FACAS NAS MÃOS! Facas, que tem me sido tão instigantes em meus últimos dias de trabalho.

Edward usando-as só com a intenção de fazer o bem, de se ajustar.
Sweeney usando-as com a intenção matar, para se vingar.

Enfim... vou caminhando com Burton debaixo do braço a partir daqui.

(Ricardo, CED, 19.05)




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