domingo, 15 de março de 2009
Experiências
Vodus, espinhos, ferimentos
Esse “coração vodu” foi uma das minhas primeiras experiências de tradução. Fiz no dia do meu aniversário e ofereci para as pessoas: comer o coração, comer meu próprio coração. Ferir, espetar - essa idéia me persegue desde o processo de criação de amarelo, ela está no cacto, nas sessões de acupuntura que eu fazia, na idéia de ser atravessada por algo.
É também uma tradução de uma ilustração de Tim Burton para “A Rapariga Vodu” (in: BURTON, Tim. A morte Melancólica do Rapaz Ostra e Outras Estórias. Lisboa: Errata Edições, 2000)
Andei espetando coisas com esses palitinhos engraçados, e finalmente comprei uma “besta”, uma espécie de arco e flecha com gatilho. Estou praticando...
Listas, arquivos, lógicas de organização e apresentação
Se o amarelo fosse um texto seria uma lista, o release sempre foi:
plástico, massa, goiabada, cacto, dança
tarsila, boca, galinha
a idéia de propor uma lógica de organização (de palavras em grupos, de elementos em cena, de imagens numa projeção), também esteve muito presente no processo de criação, e está relacionada a inventários e breviários, termos que eu utilizei tantas vezes escrevendo sobre o amarelo.
Hoje esse interesse deriva um pouco para coleções e arquivos, especificamente de imagens, que tenho encontrado (des images trouvés) ou produzido. Emendo aqui uma questão-procedimento: além de propor uma lógica de organização e apresentação destas imagens, como posso habitar estes espaços bidimensionais?
Imitações, variações e agora também traições
Numa das nossas conversas sobre tradução, o Gustavo falou do tradutor como um “imitador”.
Então me perguntei como seria uma “imitação” do amarelo? E pensei mesmo numa imitação-plágio (aquela que modifica poucos elementos e mantém clara a estrutura original), e substituí o plástico amarelo por um plástico preto.
Comecei a variar ações com este material em vídeo.
O que me consome nessas tentativas é a falta de presença (neste sentido de “estado corporal” ) na mídia vídeo. Como bem perguntou o Neto: como gerar presença (um aspecto que me é tão caro em amarelo) para o vídeo? E como gerar uma fruição coerente com a idéia de “convite ao outro”, e de “experiências sensoriais” de que eu tanto falo para esta peça?
Agora me pergunto também se o preto não é uma traição, e como eu poderia então investir e espalhar essa traição para outros elementos, estados corporais, modos de organização?
Trabalho...
Uma receita
Há mais de três anos misturo 5 kg de farinha de trigo, meia garrafa de óleo, e água até dar o ponto para fazer a massa do amarelo. De tanto escutar “você já assou isso?”, um dia eu assei mesmo. Depois do ensaio, a massa bem pisada, recheei com goiabada (claro) e assei no forno do Cafofo. Michelle, Gustavo e Neto comeram um pedaço disso que era quase eu mesma.
Achei que seria apropriado traduzir amarelo para uma receita e essa receita seria sim um pão. Tenho testado combinações, cores e formatos e acho que estou perto de chegar a algum lugar.
Essas são as traduções que tenho conseguido colocar em prática, ainda existem aquelas que povoam meu imaginário e minhas vontades... falo delas num outro capítulo.
Elisabete
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Do coração.
ResponderExcluirMe lembrou tambem a "capa" do filme 'Paris, Je T´aime', de Gus Van Sant. Que na realidade trata-se de um coração de 'torres eiffel', porem lembram bastante um coração feito de espinhos.
A capa: 'http://i31.tinypic.com/2mzkr4y.jpg'
Glauco